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domingo, 28 de março de 2010

maltas de capoeira por graduada Neve (LuandAngola)

MALTAS DE CAPOEIRA


Existe uma vasta documentação sobre a capoeira no século XIX nas casas de detenção do Rio de Janeiro. Esses documentos, os códices policiais, permitiram que historiadores remontassem parte da história da capoeira.
Essa história nos traz a evidencia de que durante esse período, africanos (inicialmente) se reuniam em grupos que foram denominados “maltas de capoeiras”.
Esses grupos eram formados de três até cem indivíduos com o fim de proteger territórios (freguesias da cidade do RJ) e seus participantes.
Cada malta tinha seu líder escolhido entre o mais forte e mais hábil capoeira, cujas decisões eram obedecidas pelos outros membros. Esse líder também deveria ser marcado socialmente por uma fama de “terror”. Sabemos que a violência física e psicológica, a exclusão da vida social e a repressão faziam parte da vida desses sujeitos no período descrito. Os próprios negros tinham rivalidade entre si.

Nesse contexto, estar numa malta era uma maneira de se socializar com outros que tinham uma situação de vida semelhante; era adquirir certo poder (os integrantes lutavam capoeira e se sobressaiam entre os negros que não lutavam) e também conseguir proteção, já que os capoeiras defendiam os membros da mesma malta.

Essas maltas eram rivais e cada uma tinha uma identidade cultural própria, com certeza construída com base em códigos africanos de identidade tribal combinados com rivalidades locais produzidas pela experiência da escravidão urbana.

Assim, o uso de fitas amarelas e encarnadas, e de partes de roupagem, com símbolo, sugere a existência de emblemas grupais muitos particulares, indicando uma rivalidade que extrapola o inimigo comum escravista. As maltas que mais se destacaram nesse período foi a dos Guaiamus e a dos Nagôs. Cada uma defendia uma freguesia e ali estabeleciam o seu espaço de dominação. A invasão de uma freguesia por uma malta rival era uma afronta resolvida a golpes de capoeira, facadas e navalhadas. Esses grupos possuíam códigos e elementos que marcavam suas identidades. A cor dos Nagoas era a branca e a cor que marcava os Guaiamus era a vermelha. Seus membros usavam fitas de cor, chapéus e roupas que demarcavam sua identidade. O jogo da capoeira não era uma atividade de “boçais”, como se denominavam os africanos recém-chegados, ou um recurso desesperado diante da onipresença da ordem policial. O tipo social capoeira que estava sendo forjado naquele momento, exibia vários sinais de estar já profundamente enraizado na sociedade escravista urbana e articulado com as formas de lidar com a lei dos brancos e seus aparatos de poder. Os capoeiras criavam estratégias de burlar a ordem policial e de penetrar na vida política da capital do Império. Uma dessas estratégias foi à ligação das maltas com o partido liberal e o partido conservador. Os capoeiras se aliavam aos políticos, fazendo verdadeiras “arruaças” nos comícios dos rivais partidários em troca de proteção e prestígio social. A forte organização e influência social desses grupos perduraram até 1890, quando a capoeira passou a ser considerada crime pelo novo Código Penal da República. A capoeira não desapareceu, mas a atuação política e a autonomia social das maltas findaram.

(Por Juliana Azevedo de Almeida (Professora e pesquisadora da UFES e Graduada do LuandAngola)

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